Sobre a redação para web

Em trabalhos acadêmicos sempre surge o momento de redigir para a web, e sempre surgem as questões ligadas à transposição para a web de textos produzidos para outros fins e meios. Sempre tratei este assunto caso a caso, no atendimento aos alunos, mas resolvi sistematizar alguns conceitos e publicar, para referência futura.

Nos trabalhos da faculdade os alunos são levados a fazer uma pesquisa e depois a colocar alguns elementos da pesquisa nos sites produzidos sobre os temas pesquisados. Assim, logo de inicio pode haver, por parte do aluno menos avisado, uma tendência de copiar e colar o trabalho acadêmico no site e pronto, problema resolvido…

É claro que a linguagem acadêmica não é a mesma que se usa para atender a um leitor de um site, pois ela exige uma série de cuidados e formatações que são estritamenta acadêmicas. A atenção, o nível de engajamento destes dois leitores — o acadêmico e o online — são diferentes, e o leitor online não faz necessariamente parte do universo acadêmico, assim, não faz sentido usar uma coisa na outra sem maiores cuidados.

Também tem a coisa de se produzir um texto de caráter jornalístico, e de publicá-lo como se estivéssemos lendo um jornal impresso. Bem, apesar de não ser expert no assunto, acho que já li algumas coisas que podem ajudar nestas questões. Não estou aqui querendo substituir a orientação dos trabalhos acadêmicos, mas apenas colocar algumas questões referentes á linguagem e ao meio digital. Espero, assim, contribuir com o tratamento do assunto.

O contexto de hipermídia

mobilidadeDeve-se lembrar que, em primeiro lugar, este texto deve se adequar ao meio digital hipermidiático. A hibridação é um dos princípios da linguagem hipermidiática. Este princípio determina que a linguagem digital pode codificar vários tipos de informação: texto, imagem, imagem em movimento, música, voz, ilustrações. Isto quer dizer que não contamos apenas com o texto para “passar a mensagem”. Assim, mais do que pensar em um texto, talvez deva-se pensar em um conjunto de recursos (audiovisuais e textuais) que, em conjunto, façam o trabalho. Assim, uma foto ao lado da matéria apóia o texto, eventualmente serve para dar credibilidade ao que se escreve, pois ilustra o que o texto explica. Um vídeo pode também fazer o papel de engajar o usuário emocionalmente no conteúdo.

Vocações

revellÉ preciso lembrar também que cada tipo de informação, cada linguagem tem a sua vocação. Imagine aqueles kits de montagem de aviões ou navios, ou aqueles móveis que a gente monta em casa. Imagine agora que as instruções de montagem são dadas somente por texto, sem nenhum ilustração… “Ligue a peça A com a B na direção longitudinal das duas, mas sem que as partes salientes se encontrem no meio”… enfim, seria um desastre. Obviamente estas instruções são dadas de modo gráfico pois são mais fáceis de entender visualmente. Assim ocorre com cada tipo de informação. Um vídeo pode sintetizar informação na medida em que traz junto imagem em movimento, som, eventualmente legendas sobre o fato mostrado etc. O texto puro também tem a sua função assegurada pois, me parece que alguns conteúdos só são bem transmitidas através da argumentação, da exposição estruturada de fatos e conceitos. É muito difícil transmitir, por exemplo, uma argumentação de um promotor de justiça ou de um filósofo através somente de imagens. Para isto é preciso o discurso textual.
Assim, deve-se refletir qual tipo de informação tem qual vocação em cada caso, para otimizar o tempo do leitor e a compreensão do tema abordado.

Contexto do uso

Às vezes também esquecem do fato de que o usuário dos meios digitais frequentemente está em um contexto diferente daquele do leitor de décadas atrás. Os hábitos de leitura vêm mudando ao longo de séculos e, com o surgimento dos dispositivos móveis, eles mudaram mais ainda. O leitor de desktop (como o leitor de um livro impresso) pode se concentrar no texto muito mais que um leitor em dispositivo móvel (digamos, um tablet ou smartphone), pois este está em situação de mobilidade, se deslocando na cidade, e frequentemente não pode dedicar toda a sua atenção ao dispositivo. O leitor de um dispositivo móvel geralmente vive um contexto em que tudo ao seu redor o distrai. Como consequência, ele tem pouco de sua atenção disponível para a leitura e apreensão do conteúdo presente no dispositivo. Assim, talvez seja uma boa ideia sintetizar ou comprimir o conteúdo para oferecer uma alternativa a este tipo de usuário/cenário. O uso de infográficos, por exemplo, ou de outras técnicas de visualização de informação podem ajuda-lo muito, quando for o caso.

Hiperlinks

Outra característica importante de um texto em meio digital é a conexão com outros conteúdos. O conteúdo produzido não precisa esgotar o assunto, pois pode deixar links para assuntos relacionados que não são essenciais ao entendimento do assunto em questão. Pode-se usar tanto links internos ao próprio texto quanto links externos, que enviem o usuário a sites que expliquem conceitos gerais sobre o assunto tratado. Do ponto de vista da conceituação da hipermídia, um texto em meio digital que não faça uso de hiperlinks está subutilizando a mídia na qual está inserido.

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Bem, estes são os assuntos que lembrei agora relativos ao tema. Peço aos leitores que complementem, através dos comentários o que abordei já que, certamente, esqueci de muita coisa.

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