A quem servem os servidores sereias?

Passado o momento de maior comoção sobre o acidente com o avião que levava o time da Chapecoense, vimos várias coisas acontecerem. A mim marcou muito a cerimônia feita na Colômbia em respeito às vítimas. Também houveram manifestações de solidariedade tocantes no Brasil e fora dele. Do outro lado do espectro, vimos algumas outras atitudes que sofreram a reprovação do público em geral. Duas delas se destacam, pois se deram nas redes sociais: vários posts muito infelizes e oportunistas por parte do site Catraca Livre e o aumento de preços de itens da Chape na Netshoes, logo depois da tragédia. Em ambos os casos as acusações eram as mesmas: a de tentar lucrar às custas do sofrimento alheio.

Neste artigo vou tratar especificamente do caso da Netshoes que, logo após o desastre, teve os preços dos itens da Chape aumentados em proporções inacreditáveis, cerca de 100%. (veja referências ao final do texto)

O site justificou o reajuste dizendo que estava com preços muito baratos anteriormente por causa da Black Friday e que, coincidentemente, no período do acidente foi justamente quando decidiram acabar com a promoção, conforme mostram os sites do Huffington Post, da UOL e do Globo. Não haveria, portanto, segundo a própria loja, conexão entre o acidente e o aumento repentino dos preços dos produtos do time. Alguns usuários se contentaram com a justificativa, outros nem tanto, desconfiando da coincidência.

Há, no entanto, uma segunda possibilidade de explicação para o reajuste que, independente de ser o que realmente aconteceu, é relevante para a discussão que quero levantar: o servidores sereias. No livro “Who owns the future”, Jaron Lanier descreve os siren servers como sendo servidores que vivem de coletar informação de outros servidores da internet para otimizar os negócios de seus mantenedores. Assim, em seu imenso grid, vários servidores da Amazon gastam seu tempo monitorando os preços dos produtos oferecidos por outras lojas em seus próprios servidores. Se uma loja concorrente, digamos, a Barnes&Noble oferece uma edição comemorativa da Origem das Espécies por $30.00, o servidor sereia da Amazon dispara um alerta que corrige o preço oferecido por sua loja para ficar abaixo da concorrência. O livro de Darwin ficaria, por, digamos, $29.50 na Amazon. Assim, ela garante que tem sempre o melhor preço, atraindo para si mais consumidores. Ao mesmo tempo, se um certo produto tivesse seu preço aumentado em todo o mercado concorrente, o servidor sereia aumentaria seu preço para otimizar o lucro da loja. Este é o caso que nos interessa.

No caso da Netshoes, embora negado pela própria loja, o que poderia ter acontecido hipoteticamente é este último caso: logo após a tragédia, os produtos da Chape, muito procurados por pessoas que desejavam ser solidárias ao time, deram o alerta ao servidor sereia que, reagindo ao aumento de procura, aumentou proporcionalmente o preço.

Gostaria só de ponderar, acompanhado do leitor, que este tipo de servidor, embora tenha o singelo objetivo de otimizar processos e lucro, pode ser desastroso para a relação comercial em si. Quando o ajuste de preço se dá, digamos, pela absoluta raridade da oferta, ou por uma ocasião como a que vimos acontecer com o time catarinense, o resultado é triste para todos: para os consumidores, que se vêem explorados, e mesmo para a loja, que sofre uma justa crítica por parte das redes sociais e de seus potenciais (e reais) consumidores, tudo por causa de ganhar alguns trocados.

Fica então a pergunta: servidores sereia servem para alguma coisa?

Nota: me dou conta agora que talvez a melhor tradução para estes servidores seja servidores sirene, e não sereia, mas lembro que Lanier, o criador do termo, associa as máquinas às personagens metade pássaro de Homero. Como, em inglês, a palavra é a mesma, ele não teve este dilema, que dedico ao leitor.

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Referências

Sobre o aumento de preço da Netshoes

Huffington Post

UOL

O Globo

Sobre o livro de Lanier

Wikipedia: Who own the future?

Prezi, Newsmap e Jolicloud, três aplicativos online que vale a pena conhecer

Começando pelo Prezi. Trata-se de um aplicativo que atua no mesmo nicho do famoso PowerPoint: apresentações. Só que ele funciona online, isto é, você monta a sua apresentação no próprio site. Você pode inserir imagens, referenciar videos do YouTube e, é lógico usar texto. A dinâmica da apresentação é muito legal: você pode fazer o layout praticamente como quiser, estabelecendo as telas e depois você informa qual o caminho quer percorrer. A apresentação pode se dar linearmente ou não-linearmente, o que é uma grande vantagem em relação a muitos aplicativos do mesmo tipo. Senti falta de dois recursos: maior liberdade no uso de fontes (por enquanto você só pode usar três tipos em uma apresentação) e uma forma de incluir links. De toda forma, estou usando o Prezi intensamente, pois a facilidade de uso é enorme. Achei mais fácil que o próprio aplicativo concorrente da Microsoft. Depois de terminada a apresentação, você pode gerar arquivos para coloca-la em seu pen-drive (para apresenta-la offline), apresenta-la no próprio site da Prezi ou ainda inclui-la em seu site da mesma forma que faz com um video no YouTube, ou seja, colando um trecho de código.

O Newsmap faz o que o nome promete: gera um painel de notícias de vários países, e de vários assuntos. É uma espécie de Google News muito melhorado. Seu layout é parecido com o Good Noows. A diferença fundamental é que o Good Noows, tal como o Google Reader se utiliza de feed RSS configuráveis e o Newsmap e o Google News parte de sites de notícias para montar um painel informativo. O bacana é que neste site você pode escolher quais países e quais “cadernos” dos jornais te interessam. Segmentar informação e repassá-la ao usuário não é novidade, mas o jeito como o Newsmap as apresenta ao usuário é que faz a diferença.

Por último vem o Jolicloud, um aplicativo do tipo online OS, como o EyeOs, o GlideOs ou o iCloud. A itnegração com o DropBox é um recurso bem interessante.

TED talks: Clay Shirky diz como a mídia social pode fazer história

Em uma das palestras mais bacanas que já vi no TED, Clay Shirky mapeia as diferenças entre as mídias tradicionais e a web e, através de três histórias, dá pistas de como podemos usar a web para criar ambientes que dêem suporte a grupos de pessoas, para que suas mensagens cheguem onde devem chegar.

Para ver a legenda em português basta clicar em “view subtitles” e escolher “português”.

TED talk: Kevin Kelly sobre o futuro da web

 

Esta palestra é do final de 2007 e mesmo assim é surpreendente. Kevin Kelly fala agora de como a internet cumpriu promessas que pareciam impossíveis, como a de montar uma enciclopédia colaborativa, ou a de interligar todos os seus amigos, imagens de satélite do mundo todo etc. E prossegue esboçando o que ele espera da internet do futuro próximo. As conclusões a que ele chega são impressionantes.
Palestra obrigatória para quem trabalha com web.

Abaixo alguns livros do palestrantes. Estou lendo agora o Out of Control: The New Biology of Machines, Social Systems, & the Economic World, que recomendo para quem está querendo entender tendências e ficar antenado com as mudanças que a web promove e continuará promovendo em nossas vidas.

Recomendações na web colaborativa

Quando você coloca um link no seu blog para um site ou blog de um amigo, talvez você não saiba, mas está fazendo uma recomendação. Mecanismos de busca encaram este link como um “voto” pela relevância do conteúdo do blog do seu amigo. Afinal, se o tal blog tem vários links apontando para ele, deve ter um conteúdo interessante, assim “pensa” o mecanismo de busca.

O mesmo ocorre quando você lê uma notícia na web e é chamado a dar uma nota de zero a dez, ou “dizer” se gostou ou não. Os sites usam este recurso para avaliar seu próprio conteúdo, principalmente quando este é postado pelo público. Consegue assim, colocar seu conteúdo numa escala de relevância e oferecer apenas os itens mais interessantes.

As recomendações são um recurso muito popular nos sites web 2.0 e têm alguns propósitos. Primeiro, o de fazer emergir a sabedoria das multidões de James Surowiecki ou a inteligência coletiva de Pierre Lévy. Isto é, fazer vir à tona um conhecimento que está pulverizado na multidão.

Se cada um der o seu voto, o site saberá a importância que o tal artigo, vídeo ou post tem para esta mesma multidão.

Organizando conteúdo gerado pelos usuários

Em segundo lugar, vamos nos colocar no lugar de quem tem a tarefa de organizar um conteúdo gerado pelos usuários.

Como saber se os posts dos últimos 10 minutos são relevantes? Teríamos que contratar dezenas (ou centenas, milhares) de pessoas para ler os posts, assistir aos vídeos e classificar estes conteúdos. Bem, se o público pode dar a sua opinião, por que não contar com ele para a tarefa? Quando você dá a sua opinião em relação a um conteúdo está, queira ou não, “trabalhando” para os editores do site. Está ajudando o site a públicar um conteúdo melhor e mais popular. Está ajudando a comunidade que publica ali. Em última análise, está ajudando a si mesmo, já que também é leitor do mesmo site.

Onde está o problema então?

Quem tem medo das recomendações?

Recomendações são usadas em um sem-número de sites, incluindo o seu buscador preferido. Através delas jornais online organizam a prioridade de suas notícias: as mais votadas ganham as ?primeiras páginas?… as menos ficam, talvez para sempre, no miolo recôndito de um site com milhares de outras notícias.

A respeito das possíveis conseqüências do uso dessas recomendações, gostaria de fazer duas observações.

A primeira é a de que este procedimento pode estabelecer, dependendo do modo como é implementado, um sistema de retro-alimentação. Se uma notícia ganha a primeira página, ela será vista mais vezes e, conseqüentemente, terá mais chances de ser bem votada e continuar na primeira página.

O oposto se dá com as notícias que caem no “miolo” do site: menos visibilidade, menos votos… quando percebem, encarnam Edmond Dantès no Castelo de If: calabouço eterno. As notícias mais populares, nesse contexto, se comportam como ditadores sulamericanos que teimam em não abandonar o poder. Só que, nesse caso, curiosamente, através do voto…

Essa tendência, penso, não é das melhores coisas que podem acontecer a um site divulgador de notícias.

A segunda observação é que o uso de recomendações pode se dar em função de vários motivos. Os sites, como se sabe, têm donos. Acredito, sinceramente, que a motivação que fez alguns deles optarem por mecanismos de recomendações seja das mais nobres: oferecer uma maior liberdade aos usuários, dar voz à massa de usuários anteriormente muda, ou uma vontade legítima de estar em sintonia com o espírito de seu tempo. Este espírito existe, e estou consciente disso.

Mas há uma outra hipótese. E ela indica a possibilidade de que esta classificação por meio de recomendações esteja lá simplesmente a serviço da audiência. Afinal, se um site, em virtude de sua natureza interativa, consegue apurar junto ao seu público o que ele quer ver, ler ou ouvir… por que não colocar este conteúdo à sua disposição? Dar ao povo o que o povo quer… Este é o sonho de quase todo diretor de programação de canal televisivo: disponibilizar para o público o que ele quer, uma espécie de ibope instantâneo e infalível. O resultado disso: audiência, ou seja, mais receita, anunciantes, links patrocinados, etc.

Não tenho absolutamente nada contra os modelos de negócios desses sites: eles têm que sobreviver, e fazem muito malabarismo oferecendo muito em troca de quase nada. Mas é fundamental perceber que oferecer-ao-usuário-o-que-ele-quer pode ser uma estratégia que nada tem de altruísta ou desinteressada. Pois junto com a audiência, algumas vezes, vai também o predomínio de um conteúdo superficial, vazio, repetitivo. Exatamente como acontece com a TV. Por que será que (quase) todos os programas vespertinos de TV do domingo são o que são? Eles dão ao público o que ele quer… Por que os vídeos mais vistos do YouTube são o do gatinho engraçado e o do ator que comete uma gafe? Enfim, a banalização do conteúdo é sempre um risco. O problema é que os mecanismos de recomendação às vezes podem favorecê-los e criar um círculo vicioso de conteúdo superficial e banal.

Quero aproveitar para dizer que sou um entusiasta da web 2.0, da folksonomia, e dos sites que usam recomendações como índice de organização de seu conteúdo. Acho ótimo que tenhamos ferramentas que permitem dar voz aos usuários e deixar emergir padrões de informação dentro dos sistemas que as abrigam.

Ao mesmo tempo, isso não quer dizer que eu ache que esses mecanismos funcionem sempre.

Google Chrome OS

Ontem, dia 7 de julho, o Google anunciou o lançamento do Google Chrome OS, um sistema operacional feito para facilitar o uso de aplicativos online através do navegador Chrome, já lançado pelo Google anteriormente. Esta perspectiva de um sistema operacional mínimo, extremamente rápido e que viabiliza o uso da rede como plataforma de software é o sonho de vários visionários. Tim O’Reilly, em seu famoso artigo “What is web 2.0”, de 2005, já anunciava a necessidade de usarmos a web como plataforma.

As principais características do novo OS do Google são:

  • O sistema é de código aberto (Open Source) e o Google já chamou a enorme comunidade de programadores voluntários para participar do projeto
  • Leveza e rapidez (boot deve demorar poucos segundos)
  • Extrema facilidade de uso
  • Focado, inicialmente, em netbooks (notebooks com pouca capacidade de processamento, feitos para se utilizarem de aplicativos na rede)
  • Distribuição prevista para o segundo semestre de 2010.

A iniciativa do Google pode mudar a cara da computação no mundo, principalmente no que diz respeito à característica Open Source do projeto. Uma arquitetura aberta, acessível (tanto em termo de usabilidade quanto de preço do consumidor) e sempre em desenvolvimento é amplamente desejada pela comunidade como um todo.

A grande barreira que há quanto à adoção de OSs Linux é a sua relativa falta de acessibilidade ao público leigo e a falta de softwares compatíveis em vários nichos. Se a plataforma migra para a rede, estas dificuldades passam a ser secundárias e há o real risco do novo OS do Google se tornar bastante popular.

Não há, ao que se sabe, nenhuma iniciativa de outros fabricantes de sistemas operacionais (Microsoft, Apple) em desenvolver um sistema voltado para aplicativos na rede, fora a iniciativa da MS com seu Office Live (pacote de aplicativos Office que rodam na rede).

Resta saber a reação destas duas gigantes com o lançamento de um OS concorrente do Google. Só para levantar um assunto atual: será que o Windows 7 terá sua política de distribuição e preços modificada? Será que o Google é a nova Microsoft, desta vez, baseada na rede?

De nossa parte, damos as boas vindas a mais uma iniciativa de código aberto do Google, que tem o potencial de modificar o jeito como usamos a rede em nosso dia-a-dia. É nossa opinião que algo tão importante como o sistema operacional não deve ser de código fechado… enfim, esperemos pelo melhor.

web 2.0, versão carochinha, parte 2

Parte 2: software livre e ideologia

Era uma vez, existiam poucos redatores para a web, e muitos leitores. É fácil perceber que, ao concentrar a fonte do conteúdo, concentra-se também poder: o poder de publicar, o poder sobre a informação. Mas para publicar algo na web há algum tempo, você tinha que ter um domínio na web, tinha que conhecer HTML ou poder contratar um web designer…

Com o surgimento do CSS e do CMS , como foi mencionado anteriormente, as coisas mudam. Com o conteúdo separado da forma de uma página, a publicação fica muito mais fácil. Passam a existir serviços gratuitos de blogs, onde qualquer um pode publicar o que quiser. Mesmo funcionários de emrpesas de vez em quando publicam informação interna, valendo-se de seu anonimato, e tornando este tipo de notícias muito mais interessante. Read More

Web 2.0, versão carochinha, parte 1

Parte 1: design e conteúdo

Era uma vez, existiam poucos redatores para a web, e muitos leitores. Como resultado, os leitores iam diretamente a um certo site para saber sobre um certo assunto… Iam á Folha de São Paulo para ler notícias, iam ao Webmonkey para saber sobre deisng web, iam á UOL para saber da programação dos cinemas…

No design web, as páginas eram feitas de HTML puro, seu layout com tabelas, a formatação com tags <font>… Conteúdo e forma eram tratados do mesmo modo, um após o outro…

Duas demandas, no entanto, estavam latentes e pulsando. De um lado, o público queria poder publicar conteúdo na web, nem que fosse só para botar no ar a foto do recém-nascido para os parentes distantes verem… escrever um conto, ou mesmo publicar um artigo. Do outro lado, desenvolvedores tinham que gerenciar grandes quantidades de conteúdo, e fazer com que este conteúdo, criado por redatores diferentes, fosse publicado na web mantendo um mínimo de coerência de formatação. Eles precisavam de algo que assegurasse essa agilidade e a manutenção do formato gráfico. Eram problemas humanos, do cotidiano de quem botava parte de sua vida na web… Read More