Parte 1: design e conteúdo
Era uma vez, existiam poucos redatores para a web, e muitos leitores. Como resultado, os leitores iam diretamente a um certo site para saber sobre um certo assunto… Iam á Folha de São Paulo para ler notícias, iam ao Webmonkey para saber sobre deisng web, iam á UOL para saber da programação dos cinemas…
No design web, as páginas eram feitas de HTML puro, seu layout com tabelas, a formatação com tags <font>… Conteúdo e forma eram tratados do mesmo modo, um após o outro…
Duas demandas, no entanto, estavam latentes e pulsando. De um lado, o público queria poder publicar conteúdo na web, nem que fosse só para botar no ar a foto do recém-nascido para os parentes distantes verem… escrever um conto, ou mesmo publicar um artigo. Do outro lado, desenvolvedores tinham que gerenciar grandes quantidades de conteúdo, e fazer com que este conteúdo, criado por redatores diferentes, fosse publicado na web mantendo um mínimo de coerência de formatação. Eles precisavam de algo que assegurasse essa agilidade e a manutenção do formato gráfico. Eram problemas humanos, do cotidiano de quem botava parte de sua vida na web…
A solução para ambos os problemas surgiu com o CSS e o CMS…
O CSS serviu para separar o conteúdo de uma página e a forma com que é apresentado… ele resolvia o problema do desenvolvedor, que podia agora manter o formato de sua publicação web na rédea curta, com o CSS externo e a aplicação de um mínimo de padráµes web.
O CMS (content management system ou sistema de gerenciamento de conteúdo) dava conta de publicar um conteúdo qualquer dentro de uma formato predefinido de publicação. Era só o sujeito digitar numa interface que o CMS guardava o texto num banco de dados e gerava páginas dinamicamente. Geralmente a solução envolvia PHP para gerar as páginas e MySQL como banco de dados. Era a solução LAMP (L de Linux, A de Apache, M de MySQL e P de PHP)… Assim, as famílias podiam publicar as fotos que quisessem, com os textos que bem entendessem. Assim nasceram os blogs, fotologs e videologs. Um diário pessoal ou familiar na web.
Mas reparem que o CSS e o CMS não são muita coisa um sem o outro… O CSS assegura a formatação mas não permite a publicação de conteúdo diná¢mico… E o CMS sem o CSS também fica capenga: permite a publicação de conteúdo dinâmico mas com uma formatação qualquer. Pensar num CMS sem usar CSS é praticamente impossível.
Aos poucos as pessoas foram se acostumando a criar conteúdo, usando o blog, que antes era um diário pessoal, agora como um mural de sua expressão crítica. Gente publicava reviews sobre equipamentos, pensamentos religiosos ou filosóficos, textos ficionais, críticas ao governo… aos poucos os blogs foram virando o que os jornais chamam de editoriais, isto é, um texto opinativo baseado em fatos recentes, mais ou menos o que os á¢ncoras fazem nos jornais televisivos.
E assim alguns blogs se tornaram mini-jornais, ou melhor, sites de notícias, com a vantagem de permitirem a réplica (pois o CMS dá conta disso com as páginas diná¢micas e o banco de dados, lembra?)… e em pouco tempo tinha gente atacando, outro defendendo e outros assistindo á s últimas façanhas do governo (ou de alguma celebridade) não mais na CNN, mas no blog de um cara que escrevesse bem… ou que fosse engraçado, enfim, alguém cujo texto valesse a pena ler.
As fontes de notícias se tornaram pulverizadas… Várias pessoas criavam conteúdo para a web, e várias pessoas liam aquele conteúdo.rnrnMas aí alguém pensou: não seria legal se houvesse uma página só com o “caderno” de esportes? Já que as notícias estão em bancos de dados mesmo, não daria para organiza-las em outro formato para que eu pudesse fazer um jornal só com o que me interessa, sobre o assunto que eu quero, usando a fonte que eu quero?
Para isso, deveria haver um formato que descrevesse o conteúdo, ao invés de formatá-lo… e um formato que fosse padronizado para que eu pudesse pegar notícias de fontes diferentes e vê-las num mesmo modo de exibição…
Ora, no html, você pode usar a tag < h1 > para o título… ou pode usar < h3 >… ou < p class=”titulo” > se você usa CSS… ou ainda < font size=”4? face=”Verdana”… >. Ou seja, o HTML não descreve o conteúdo que mostra, ele só formata este conteúdo… e isso faz toda a diferença.
Assim, surgiu o XML, uma série de padráµes para que se possa descrever um conteúdo, para que ele possa ser manipulado adequadamente antes de formatado e mostrado. No caso das notícias, o RSS foi a resposta para esta questão. O RSS é um formato de XML específico para notícias. Um RSS é algo assim:
<code>
< item >
< title >High-Def DVD Shows Off at CES< /title >
< link > http://www.wired.com/news/wireservice/< /link >
< guid isPermaLink=”true” >http://www.wired.com/news/wireservice/< /guid >
< description >A trade group predicts 25 million U.S. homes will have high-definition TV by the end of 2006. Celebs help companies flog teir wares targeting the high-def DVD market.
< /description >
< pubDate >Sat, 7 Jan 2006 17:17:00 EST< /pubDate >
< /item >
</code>
Como você pode ver, parece com HTML, mas não é…
Agora cada “artigo”, desde que disponibilizado, poderia ser rearranjado para fazer parte de uma outra publicação. Aos poucos, o lugar de onde vinha a notícia, ou seja, a fonte, tornou-se pouco relevante.
Ok, chega de conto de fadas…
Algumas questáµes agora precisam ser discutidas:
1- Agora que a fonte da informação não é tão importante, o que passa a ser importante num “site de conteúdo”, isto é, num site que quer oferecer notícias para seus usuários? Será um bom “mix” de notícias? Será a especialização em um certo nicho de conteúdo (esportes, por exemplo)? Qual a profundidade que se espera de um site de notícias?
2- Qual o papel / peso do design (e do designer) na fidelização de um leitor de notícias? O designer continua sendo um formatador de conteúdo, se restringindo ao “lado visual” do projeto? Quais são os outros conhecimentos necessários para desenvolver um website para a web 2.0?
3- Na medida em que o conteúdo web migra para bancos de dados, os designers estão tendo que se voltar mais para as formas de manipular estes dados do que propriamente para resolver como apresentá-los… Será que o designer tem que virar um programador? Em sites como o Del.icio.us, típico caso de site web 2.0, a interface é excessivamente simples e vazia… Isso é uma tendência? Em que medida?
4- No que diz respeito á web e seus sites / aplicativos, o designer digital é aquele que desenha a interface, é aquele desenha e informação, ou aquele que “pensa” a web?
Em breve voltarei ao tema e vou falar um pouco mais sobre a web 2.0 e sua face social, ideológica. Até lá.
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